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Foto do escritorManuela Ferrer

Os Storytellers, modernos Contadores de histórias

"No dia 19 de abril de 1506, o céu acordou azul e iluminado pelo sol primaveril de Lisboa. Era Páscoa e os Lisboetas, povo crente e temeroso a Deus havia-se reunido na Igreja de São Domingos, para cumprir as suas devoções.

(...)

Já vos contarei mais sobre esta história, mas antes disso queria partilhar convosco aquilo que considero ser a poção mágica capaz de nos dar os Super Poderes, de criar uma história para as Redes Sociais.


Porque razão é que os Storytellers, têm um papel incrível neste mundo das Redes Sociais e dos Blogues?


  1. Porque contar um história sempre foi uma das formas mais conhecidas de passar mensagens, ideias, valores e memórias.

  2. Porque os contadores de histórias tiveram desde sempre e têm ainda hoje um papel fantástico na nossa vida.

  3. Porque as histórias se podem partilhar à volta de uma fogueira, no conforto de uma lareira, numa roda de amigos, ou nas redes sociais.

  4. Porque contar significa também reunir. Reunir à nossa volta a atenção, o tempo, o interesse de quem nos escuta.

  5. Porque o contador de histórias mantém viva a memória e perpetua a informação. Num mundo, onde cada vez mais se valoriza quem detém o conhecimento e a informação, será importante que a saibamos contar e partilhar.

  6. Porque sempre que conto uma história, crio laços, emoções e faço com que os meus ouvintes pensem sobre um determinado assunto, sem que efetivamente se apercebam de que é isso que está a acontecer. [ Ingredientes como as emoções ajudam a fortalecer a imagem e a memorizar a mensagem, a história. ]

  7. Porque sempre foi através de histórias e de contos que ensinámos valores fundamentais às nossas crianças.


Uma forma divertida de fazer exercícios e contar uma estória? Selecionar um ditado popular e transformá-lo numa pequena e breve história. "Água mole em pedra dura tanto dá, até que fura."

A verdade, é que todos os TED Talk começam com o seu narrador, contando algo de especial sobre si ou a sua vida de forma a criar a tal onde de emoções que possibilitam a ligação e o "viver" da experiência.


E segredos há?

Não sei se serão segredos, mas podemos socorrer-nos de algumas técnicas. Podemos tentar criar laços, usando as emoções, de que nos lê. Podemos tentar transportar as pessoas, os nossos leitores para dentro da nossa narrativa.

O importante é ligar o narrador ao ouvinte, ao recetor das nossas palavras.


Vamos lá então aos 5 tempos de uma boa estória:

1. Simplicidade

As boas histórias têm que ser fáceis de entender. A escolha da linguagem deverá ser adequada ao grupo, para que o mesmo não tenha que perder tempo a descodificar, perdendo-se a hipótese de criar laços e emoções. A simplicidade também ajuda na memorização.

2. Emoções

Se as histórias que ouvimos fossem apenas uma sucessão de factos o nosso interesse e capacidade de memorização seria reduzido. As emoções, o suspense, o terror, o humor, terão que ser escolhidos e pensados com todo o cuidado.


3. Verdade

Verdadeiras no sentido em que o narrador acredita no que está a contar, porque é claro que as histórias ficcionais têm espaço no mundo dos storytellers.


4. Reais

As boas estórias são aquelas que foram vividas por nós. Aquelas que nos chegaram porque passaram de geração em geração pertencem-nos também, i.e. seremos capazes de as contar porque as vivemos de alguma maneira.


5. Válidas

Independentemente do tamanho da nossa audiência, o importante é que algum nos ouça.


 

A história de hoje

Foi num sábado, que parti à descoberta da Lisboa Judaica. Juntei-me a um grupo de curiosos e percorremos os passos dos judeus na cidade de Lisboa.

Descobrir onde ficavam as judiarias e perceber o que aconteceu em alguns séculos de história em apenas 3 horas, é desafiante.

A organização do evento ficou a cargo da Green Trekker, e a história chegou-nos pela voz da arqueóloga Inês Ribeiro que com enorme conhecimento, tranquilidade e entusiasmo nos guiou os passos por esta nossa cidade, fazendo-nos olhar, ver e olhar de novo para ruas, sinais, espaços que tão bem conhecíamos , mas cujos detalhes nos fugiam.

Coube assim à Inês o papel de #StoryTelling.

Conto aqui apenas um pedaço do que me contaram, tornando-me também neste momento numa Storyteller e fica lançado o desfio: escrevam, contem, partilhem e criem memórias.


"No dia 19 de abril de 1506, o céu acordou azul e iluminado pelo sol primaveril de Lisboa. Era Páscoa e os Lisboetas, povo crente e temeroso a Deus havia-se reunido na Igreja de São Domingos, para cumprir as suas devoções.

Era preciso que ali se reunissem e que as ladainhas cantadas enchessem as paredes, os tetos e os céus de Lisboa, para ver se a seca que há tantos meses castigava a cidade desistia e dava lugar às chuvas frescas que alimentam e refrescam.

E o poder da fé tem muita força.

A verdade é que o Cristo que se encontrava na cruz, se começou a movimentar. E os movimentos não eram tão pequenos assim, que não fossem de imediato vistos pelo olhar atento de um dos cristãos em oração.

Havia chegado o momento de pôr fim à fome e à miséria que sacudia violentamente este povo, pediam os crentes.

Eis quando senão, um Cristão Novo, com espirito de tudo questionar e de tentar entender, resolve atribuir os movimentos de Cristo à dança do Sol, da luz e das sombras.


Heresia, gritaram os padres!

Heresia gritaram os crentes!


Açoite-se o malvado, o endiabrado, o esconjurado, o judeu!

Morte ao judeu!


Num turbilhão de gritos e açoites, move-se a populaça enfurecida e acicatada pelos padres, pela fome, pela miséria, pela fome de violência, pelo sangue, move-se cega pelas ruas da cidade.

Movem-se, arrastam e matam: homens, mulheres, crianças, cristãos novos e judeus.

A loucura estava instalada e contabilizados os corpos em mais de 3000.


Olhamos em volta e aqui estamos nós.

Reunidos, no meio do largo.


Ao nosso lado, quase à porta da igreja, ergue-se o monumento aos judeus e ao fundo, um mural. Onde se gritam, cantam, pintam palavras de tolerância, humanas, sociais.


São muitas as cores, os credos e os sons que ali se cruzam.


Naquele sábado, Lisboa estava novamente azul e cheia de luz.





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